Neste blog compartilho vivências e êxitos do meu fazer pedagógico, objetivando interagir com professores, amigos, alunos e pais!

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Pássaro Cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão; 
E, em breve, uma avezinha descuidada, 
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada; 
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo: 
Porque é que, tendo tudo, há de ficar 
   O passarinho mudo, 
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os pássaros não falam. 
Só gorjeando a sua dor exalam, 
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem, 
Talvez os teus ouvidos escutassem 
Este cativo pássaro dizer:

 “Não quero o teu alpiste! 
Gosto mais do alimento que procuro 
Na mata livre em que a voar me viste; 
Tenho água fresca num recanto escuro
  Da selva em que nasci; 

Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti! 
Não quero a tua esplêndida gaiola!

Pois nenhuma riqueza me consola 
  De haver perdido aquilo que perdi ... 
Prefiro o ninho humilde, construído 
   De folhas secas, plácido, e escondido 
      Entre os galhos das árvores amigas ... 
       
Solta-me ao vento e ao sol! 
   Com que direito à escravidão me obrigas? 
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde, 
Entoar minhas tristíssimas cantigas! 

Por que me prendes? Solta-me covarde! 
Deus me deu por gaiola a imensidade: 
Não me roubes a minha liberdade ...
 Quero voar! voar! ... “

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar. 
E a tua alma, criança, tremeria, 
     Vendo tanta aflição: 
E a tua mão tremendo, lhe abriria 
     A porta da prisão..

Olavo Bilac
Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ